Veneráveis Irmãos e Amados Filhos, Saúde e Bênção Apostólica.
1. Do alto do Trono Apostólico, aonde a Providência Divina Nos colocou para vigiar pela salvação de todas as nações, Nós olhamos sobre a Itália em cujo seio, por um ato de singular predileção, Deus estabeleceu a Sede de Seu Vigário, e da qual Nos vem no tempo presente muitas e amarguíssimas tristezas.
Não é nenhuma ofensa pessoal que Nos entristece, nem as privações e sacrifícios impostos a Nós pela atual condição das coisas, nem os ultrajes e escárnios que uma imprensa insolente tem todo o poder para atirar todos os dias contra Nós. Se somente a Nossa pessoa estivesse envolvida, e não a ruína à qual a Itália ameaçada em sua fé está se atirando, Nós suportaríamos estas ofensas sem reclamar, alegrando-Nos até por repetir o que um de Nossos mais ilustres Predecessores disse de si mesmo: "Se o aprisionamento do meu país não aumentasse a cada momento e a cada dia, quanto ao desprezo e escárnio de mim mesmo eu alegremente silenciaria."[1]
Mas, além da independência e dignidade da Santa Sé, a própria religião e a salvação de toda uma nação estão envolvidas, de uma nação que desde os primeiros tempos abriu o seu seio à Fé Católica e sempre a tem zelosamente preservado. Por incrível que pareça, é verdade; a tal ponto chegamos, que devemos temer que esta nossa Itália perca até a fé.
Muitas vezes Nós soamos o alarme, para advertir do perigo; mas por este motivo Nós não pensamos que tenhamos feito o suficiente. Em face aos continuados e ainda mais furiosos assaltos que são feitos, Nós ouvimos a voz do dever chamando-Nos mais poderosamente do que antes para falar-vos novamente, Veneráveis Irmãos, aos seus Clérigos, e a todo o povo italiano.
Uma vez que o inimigo não dá trégua, então nem vós nem Nós podemos permanecer calados ou inertes. Pela Divina misericórdia Nós fomos constituídos guardiões e defensores da religião do povo confiado ao Nosso cuidado, Pastores e vigilantes sentinelas do rebanho de Cristo; e por este rebanho Nós devemos estar prontos, se necessário, a sacrificar tudo, até a própria vida.
2. Nós não diremos nada de novo; pois os fatos não mudaram daquilo que eles eram, e Nós em outros tempos falamos sobre eles quando a oportunidade surgiu.
Mas Nós agora pretendemos recapitular estes fatos de algum modo, e agrupá-los em uma única imagem, de modo a deduzir para instrução geral as conseqüências que seguem deles. Os fatos são incontestáveis e aconteceram à clara luz do dia; não separados uns dos outros, mas tão conectados entre si em uma série de modo a revelar com a mais completa evidência um sistema do qual eles são a verdadeira operação e desenvolvimento. O sistema não é novo; mas a audácia, a fúria, e a rapidez
com as quais ele está sendo levado adiante agora, são novas. É o plano das seitas que está agora se desenrolando na Itália, especialmente no que se refere à religião Católica e à Igreja, com o propósito final e jurado, se isso fosse possível, de reduzi-la a nada.
Agora é desnecessário colocar as seitas Maçônicas em julgamento. Elas já estão julgadas; seus fins, seus meios, suas doutrinas, e sua ação, são todos conhecidos com indisputável certeza. Possuídos pelo espírito de Satanás, cujos instrumentos eles são, eles ardem como ele com um ódio mortal e implacável a Jesus Cristo e Sua obra; e eles se esforçam por todos os meios para derrubá-la e acorrentá-la. Esta guerra no momento presente se desenrola mais do que em qualquer outro lugar na
Itália, na qual a religião Católica se enraizou mais profundamente; e acima de tudo em Roma, o centro da unidade Católica, e a Sede do Pastor Universal e Mestre da Igreja.
3. É bom traçar desde o início as diferentes fases deste combate.
4. A guerra começou pela derrubada do poder civil dos Papas, cuja queda, de acordo com as intenções secretas dos verdadeiros líderes, mais tarde abertamente declarada, era, sob um pretexto político, para ser o meio de pelo menos escravizar, se não destruir, o supremo poder espiritual dos Pontífices Romanos.
Para que nenhuma dúvida restasse quanto ao verdadeiro objetivo desta guerra, seguiu-se rapidamente a supressão das Ordens Religiosas; e portanto uma grande redução no número de operários evangélicos para a propagação da fé entre os pagãos, e para o ministério sagrado e serviço religioso nos países Católicos.
Mais tarde, a obrigação do serviço militar foi estendida aos clérigos, com o necessário resultado de que muitos e graves obstáculos foram colocados no recrutamento e devida formação até do Clero secular. Lançaram mãos das propriedades eclesiásticas, em parte por absoluto confisco, e em parte taxando-as com enormes cargas, de modo a empobrecer o Clero e a Igreja, e privar a Igreja do que é necessário para seu suporte temporal e para levar adiante instituições e obras auxiliares ao
seu divino apostolado. Isto os próprios sectários abertamente declararam. Para diminuir a influência do Clero e de corpos clericais, apenas um meio eficaz precisa ser usado: tirar deles todos os seus bens, e reduzi-los à absoluta pobreza. Assim também a ação do Estado é em si mesma toda dirigida para erradicar da nação seu caráter religioso e Cristão. Das leis, e de toda a vida oficial, toda inspiração e idéia religiosa é sistematicamente banida, quando não diretamente atacada. Cada manifestação pública de fé e de piedade Católica é ou proibida ou, sob pretextos vãos, de mil maneiras impedida.
Da família são tiradas sua fundação e constituição religiosa pela proclamação do casamento civil, como ele é chamado; e também pela educação inteiramente leiga que agora é exigida, dos primeiros elementos até o mais alto ensino das universidades, de modo que as gerações em crescimento, tanto quanto isto possa ser afetado pelo Estado, devem crescer sem qualquer idéia de religião, e sem as primeiras noções essenciais de seus deveres para com Deus. Isto é colocar o machado na
raiz. Nenhum meio mais universal e eficaz poderia ser imaginado de retirar a sociedade, as famílias, e os indivíduos, da influência da Igreja e da fé. Demolir o Clericalismo (ou Catolicismo) até os seus fundamentos e em suas próprias fontes de vida, especificamente, na escola e na família: esta é a autêntica declaração dos escritores Maçons.
5. Será dito que isto não acontece somente na Itália, mas é um sistema de governo que os Estados seguem de modo geral. Nós respondemos, que isto não refuta, mas confirma o que Nós estamos dizendo sobre os desígnios e ação da Maçonaria na Itália. Sim, este sistema é adotado e levado adiante aonde quer que a Maçonaria use sua ação ímpia e pervertida; e, como a sua ação é largamente difundida, do mesmo modo este sistema anti-Cristão é largamente aplicado. Mas a aplicação se torna mais veloz e geral, e é levada a maiores extremos, em países aonde o governo está mais sob o controle da seita e melhor promove os seus interesses. Infelizmente, no momento presente a nova Itália está entre estes países. Não apenas hoje ela está sujeita à pervertida e maligna influência das seitas; mas já por algum tempo eles a têm tiranizado como quiseram, com absoluto
domínio e poder. Agora a direção dos assuntos públicos, no que diz respeito à religião, está totalmente em conformidade com as aspirações das seitas; e para atingir as suas aspirações, eles encontram auxiliadores declarados e instrumentos de prontidão naqueles que detém o poder público. Leis adversas à Igreja e medidas hostis a ela são primeiro propostas, decididas, e resolvidas, nos encontros secretos da seita; e se algo apresenta até a mínima aparência de hostilidade ou prejuízo à Igreja, é imediatamente recebido favoravelmente e levado adiante.
Entre os fatos mais recentes Nós podemos mencionar a aprovação do novo código penal, no qual o que era mais obstinadamente exigido, a despeito de todas as razões em contrário, eram os artigos contra o Clero, que forma para eles uma lei excepcional, e até condenam como criminosas certas ações que são deveres sagrados de seus ministros.
A lei quanto às obras de piedade, pela qual qualquer propriedade de caridade, acumulada pela piedade e religião de nossos ancestrais sob a proteção e a guarda da Igreja, foi retirada completamente da ação e controle da Igreja, foi por alguns anos levada adiante nos encontros da seita, precisamente porque iria infligir um novo ultraje à Igreja, diminuir sua influência social, e
suprimir imediatamente um grande número de doações feitas para o culto divino.
Então veio aquela obra eminentemente sectária, a ereção do monumento ao renomado apóstata de Nola, o qual, com a ajuda e favor do governo, foi promovido, determinado, e levado adiante pela Maçonaria, cujo mais autorizado porta-voz não se envergonhou de reconhecer o seu propósito e declarar seu significado. Seu propósito era insultar o Papado; seu significado que, ao invés da Fé Católica, deve agora haver em substituição a mais absoluta liberdade de examinação, de crítica, de
pensamento, e de consciência: e o que é entendido por tal linguagem na boca das seitas é bem conhecido.
O selo foi colocado pelas mais explícitas declarações feitas pelo chefe de governo, que eram no seguinte sentido: - Que o verdadeiro e real conflito, que o governo tem o mérito de entender, é o conflito entre a fé e a Igreja de um lado e a livre examinação e a razão do outro. Que a Igreja tente fazer como ela fez antes, acorrentar novamente a razão e o livre-pensar, e prevalecer; mas o governo neste conflito declara-se abertamente a favor da razão como contrária à fé, e toma sobre si mesmo a tarefa de fazer do Estado Italiano a expressão evidente desta razão e liberdade: uma triste tarefa, que agora há pouco foi enfaticamente reafirmada em uma ocasião semelhante.
6. À luz de tais fatos e tais declarações como estas, é mais do que nunca claro que a idéia dominante que, em tudo que diz respeito à religião, controla o curso dos assuntos públicos na Itália, é a realização do programa Maçônico. Nós vemos quanto já foi realizado; nós sabemos quanto ainda resta a ser feito; e nós podemos prever com certeza que, enquanto os destinos da Itália estiverem nas mãos de governantes sectários ou de homens sujeitos às seitas, a realização do programa será forçada adiante, mais ou menos rapidamente de acordo com as circunstâncias, até o seu completo desenvolvimento.
A ação das seitas é no presente dirigida para atingir os seguintes objetivos, de acordo com os votos e resoluções passadas em suas mais importantes assembléias, - votos e resoluções inspirados por um ódio mortal à Igreja. A abolição nas escolas de qualquer tipo da instrução religiosa, e a fundação de instituições nas quais até as moças devem ser retiradas de toda influência clerical, qualquer que ela possa ser; porque o Estado, que deve ser absolutamente ateu, tem o inalienável direito e dever de formar o coração e os espíritos de seus cidadãos, e nenhuma escola deveria existir fora de sua inspiração e controle.
A aplicação rigorosa de todas as leis agora vigorando, que visam assegurar a absoluta independência da sociedade civil da influência clerical. A estrita observância de leis suprimindo corporações religiosas, e o emprego de meios para fazê-las efetivas. O controle de todas propriedades eclesiásticas, partindo do princípio que a sua propriedade pertence ao Estado, e a sua
administração ao poder civil.A exclusão de todo elemento Católico ou clerical de todas administrações públicas, de obras de caridade, hospitais, e escolas, dos conselhos que governam os destinos do país, de uniões acadêmicas e semelhantes, de companhias, comitês, e famílias, - uma exclusão de tudo, em qualquer lugar, e para sempre. Ao invés, a influência Maçônica deve ser sentida em todas as
circunstâncias da vida social, e se tornar mestra e controladora de tudo.
Por meio disto o caminho vai ser aplainado em direção à abolição do Papado; a Itália irá deste modo ser livre de seu implacável e mortal inimigo; e Roma, que no passado foi o centro da Teocracia universal no futuro será o centro da secularização universal, do qual a Carta Magna da liberdade humana deve ser proclamada à face do mundo inteiro. Estas são as autênticas declarações, aspirações, e resoluções, dos Maçons ou de suas assembléias.
7. Sem exagero, esta é a presente condição e a futura perspectiva da religião na Itália. Encolher-se para não ver a gravidade disto seria um erro fatal. Reconhecer isto como é, confrontar isto com a prudência e fortaleza evangélicas, inferir os deveres que isto impõe sobre todos os Católicos, e sobre nós especialmente que como Pastores temos que vigiar sobre eles e guiá-los à salvação, é entrar nos olhares da Providência, fazer uma obra de sabedoria e zelo pastoral.
Tanto quanto diz respeito a Nós, o ofício Apostólico põe sobre Nós o dever de protestar em alta voz mais uma vez contra tudo que tem sido feito, está sendo feito, ou está sendo tentado na Itália para prejudicar a religião. Defendendo e guardando os direitos sagrados da Igreja e do Pontificado, Nós abertamente repelimos e denunciamos a todo o mundo Católico os ultrajes que a Igreja e o Pontificado estão continuamente recebendo, especialmente em Roma, e que nos atrapalham no governo da Igreja Católica, e adicionam dificuldade e indignidade à Nossa condição. Nós estamos determinados a não omitir nada de Nossa parte que possa servir para manter a fé viva e vigorosa entre o povo italiano, e para protegê-lo contra os assaltos de seus inimigos. Nós, portanto, fazemos um apelo, Veneráveis Irmãos, ao vosso zelo e vosso grande amor pelas almas, de modo que, possuídos com um sentido da gravidade e do perigo no qual elas incorrem, vós possais aplicar os remédios adequados e fazer tudo o que puderdes para dispersar este perigo.
8. Nenhum meio que esteja em vosso poder deve ser neglicenciado. Todos os recursos da palavra, todo expediente na ação, todos os imensos tesouros de socorro e graça que a Igreja coloca em vossas mãos, devem ser usados, para a formação de um Clero instruído e cheio do espírito de Jesus Cristo, para a educação cristã dos jovens, para a extirpação de doutrinas malignas, para a defesa das verdades Católicas, e para a manutenção do caráter Cristão e do espírito de vida familiar.
9. Quanto ao povo Católico, antes de mais nada é necessário que eles sejam instruídos quanto ao verdadeiro estado de coisas na Itália no que diz respeito à religião, o caráter essencialmente religioso do conflito na Itália contra o Pontífice, e os objetivos reais constantemente visados, para que eles possam ver pela evidência dos fatos os muitos modos pelos quais se conspira contra a sua religião, e possam se convencer do risco que eles correm de serem roubados e despojados do inestimável tesouro da fé.
Com esta convicção em suas mentes, e tendo ao mesmo tempo a certeza de que sem fé é impossível agradar a Deus e ser salvo, eles irão entender que o que agora está em jogo é o maior, para não dizer o único interesse, o qual cada um na terra está obrigado antes de todas as coisas, ao custo de qualquer sacrifício, a colocar fora de perigo, sob pena de miséria eterna.
Eles irão, ainda mais, facilmente entender que, neste tempo de aberto e furioso conflito, seria desgraçante para eles desertarem do campo e se esconderem. Seu dever é permanecer em seus postos, e abertamente mostrar serem verdadeiros católicos por suas crenças e ações, em conformidade com a sua fé. Isto eles devem fazer pela honra de sua fé, e a glória do Soberano Líder
cuja bandeira eles seguem; e para que eles possam escapar do grande infortúnio de serem repudiados no último dia, e de não serem reconhecidos como Seus pelo Supremo Juiz que declarou que qualquer um que não está com Ele está contra Ele.
Sem ostentação ou timidez, que eles dêem prova daquela verdadeira coragem que vem da consciência de cumprir um dever sagrado perante Deus e os homens. A esta franca profissão de fé os Católicos devem unir uma perfeita docilidade e amor filial para com a Igreja, um respeito sincero por seus Bispos, e uma absoluta devoção e obediência ao Pontífice Romano. Em uma palavra, eles irão reconhecer quão necessário é largar tudo que seja obra das seitas, ou que receba impulso ou favor da parte deles, como sendo sem dúvida alguma infectado pelo espírito anti-Cristão; e eles irão, ao contrário, devotar-se com atividade, coragem e constância, a obras Católicas, e às associações e instituições que a Igreja abençoou, e que os Bispos e o Pontífice Romano encorajam e mantêm.
Além disso, vendo que o principal instrumento empregado por nossos inimigos é a imprensa, que em grande parte recebe deles sua inspiração e suporte, é importante que os Católicos se oponham à imprensa maligna por uma imprensa que seja boa, para a defesa da verdade, nascida do amor à religião, e para sustentar os direitos da Igreja. Enquanto a imprensa Católica estiver ocupada em deixar nus os desígnios pérfidos das seitas, em ajudar e defender as ações dos sagrados Pastores, e em defender a promover as obras Católicas, é dever os fiéis suportar eficazmente esta imprensa, - recusando ou cessando de favorecer de qualquer modo a imprensa maligna; e também diretamente, concorrendo, tanto quanto cada um possa, para ajudá-la a viver e florescer: e neste assunto Nós pensamos que até agora não foi feito o suficiente na Itália.
Finalmente, o ensinamento dirigido por Nós a todos os Católicos, especialmente nas encíclicas "Humanum genus" e "Sapientiae Christianae", deveria ser particularmente aplicado aos Católicos da Itália, e ser imprimido sobre eles. Se eles têm algo a sofrer ou a sacrificar para permanecer fiéis aos seus deveres, que eles tomem coragem no pensamento de que o Reino dos Céus sofre violência e é ganhado somente fazendo violência a nós mesmos; e que aquele que ama a si mesmo e o que é seu mais do que Jesus Cristo, não é digno dEle. O exemplo dos muitos campeões invencíveis que, em todos os tempos, generosamente sacrificaram tudo pela fé, e os especiais auxílios da graça que fazem o jugo de Jesus Cristo suave e Seu fardo leve, devem animar poderosamente a sua coragem e sustentá-los no glorioso combate.
10. Até agora Nós temos considerado apenas o lado religioso do presente estado de coisas na Itália, uma vez que este é para Nós o mais essencial, e o assunto que eminentemente diz respeito a Nós em razão do ofício Apostólico que Nós temos. Mas é valioso considerar também o lado social e político, para que os italianos possam ver que não apenas o amor pela religião, mas também o mais nobre e sincero amor à pátria deveria incitá-los a resistir às ímpias tentativas das seitas. - Como uma prova convincente disto, é suficiente notar o tipo de futuro, na ordem social e política, que está sendo preparado para a Itália por homens cujo objetivo é - e eles não fazem segredo disto - combater uma guerra sem trégua contra o Catolicismo e o Papado.
11. Já o teste do passado fala eloqüentemente por si mesmo. O que a Itália se tornou neste primeiro Período de sua nova vida, quanto à moralidade pública e privada, segurança interna, ordem e paz, riqueza nacional e prosperidade, tudo isto é conhecido por vós pelos fatos, Veneráveis Irmãos, melhor do que Nós poderíamos descrever em palavras. Os próprios homens cujo interesse seria esconder tudo isto, são constrangidos pela verdade a admiti-lo. Nós apenas diremos que, sob as presentes condições, uma necessidade triste mas real, as coisas não poderiam ser de outro modo: a seita Maçônica, com toda a sua jactância de um espírito de beneficência e filantropia, pode apenas exercer uma influência maligna - uma influência que é maligna porque ataca e esforça-se por destruir a religião de Cristo, a verdadeira benfeitora da humanidade.
12. Todos sabem com que efeito salutar e em quantos modos a influência da religião penetra a sociedade. Está além de disputa que a sólida moralidade pública e privada dá honra e força aos Estados. Mas é igualmente certo que, sem religião não há verdadeira moralidade, pública ou privada.
Da família, solidamente baseada em seus fundamentos naturais, vem a vida, o crescimento, e a energia da sociedade. Mas sem religião, e sem moralidade, a parceria doméstica não tem estabilidade, e os laços familiares se tornam mais fracos e se rompem.
A prosperidade dos povos e das nações vem de Deus e de Suas bênçãos. Se um povo não atribui a sua prosperidade a Ele, mas se levanta contra Ele, e no orgulho de seu coração tacitamente diz a Ele que não tem necessidade dEle, sua prosperidade é apenas uma imagem, certa a desaparecer tão logo agrade ao Senhor confundir a orgulhosa insolência de Seus inimigos.
É a religião que, penetrando no fundo da consciência de cada um, faz com que ele sinta a força do dever e incita-o a cumpri-lo. É a religião que dá aos governantes sentimentos de justiça e amor para com seus súditos; que faz os súditos fiéis e sinceramente devotados aos seus governantes; que faz legisladores retos e bons, magistrados justos e incorruptíveis, soldados bravos e heróicos, administradores conscienciosos e diligentes. É a religião que produz concórdia e afeição entre marido e esposa, amor e reverência entre os pais e seus filhos; que faz os pobres respeitarem as propriedades dos outros, e faz com que os ricos façam um uso justo de sua riqueza. Desta fidelidade ao dever, e deste respeito pelos direitos dos outros vem a ordem, a tranqüilidade, e a paz, que formam uma parte tão importante da prosperidade de um povo e de um Estado. Tire a religião, e
com ela todos estes benefícios imensamente preciosos desaparecerão da sociedade.
13. Para a Itália, além disso, a perda seria sensível. Todas as suas glórias e grandezas, que por um longo tempo deram a ela o primeiro lugar entre as mais cultas nações, são inseparáveis da religião, que ou as produziu ou as inspirou, ou certamente as favoreceu, ajudou, e aumentou. Suas comunas
nos falam de suas liberdades públicas: de suas glórias militares nós lemos em suas muitas memoráveis empresas contra os inimigos do nome Cristão. Suas ciências são vistas em suas universidades que, fundadas, mantidas, e privilegiadas pela Igreja, têm sido sua casa e teatro. Suas artes são mostradas nos inumeráveis monumentos de todo tipo com os quais a Itália está profusamente coberta. De suas instituições para auxílio dos sofredores, para os miseráveis e as classes trabalhadoras nós temos evidência em suas muitas fundações de caridade Cristã, nos muitos asilos estabelecidos para todo tipo de necessidade e infortúnio, e nas associações e corporações que cresceram sob a proteção da religião. A virtude e a força da religião são imortais porque a religião é de Deus. Ela tem tesouros de auxílio e eficacíssimos remédios, que podem ser maravilhosamente adaptados às necessidades de cada tempo e época. O que a religião tem sabido como fazer e tem feito em tempos passados,
ela pode fazer também agora com uma virtude sempre fresca e vigorosa. Retirar a religião da Itália, é secar imediatamente a mais abundante fonte de inestimável auxílio e benefícios.
14. Além disso, um dos maiores e mais formidáveis perigos da sociedade de hoje, é a agitação dos Socialistas, que ameaçam levantá-la de seus fundamentos. Deste grande perigo a Itália não está livre; e embora outras nações possam estar mais infestadas do que a Itália por este espírito de subversão e desordem, não é entretanto menos verdadeiro que até aqui este espírito está se espalhando largamente e aumentando a cada dia em força. Tão criminosa é sua natureza, tão grande o poder
de sua organização e a audácia de seus desígnios, que é necessário unir todas as forças conservadoras, se quisermos impedir seu progresso e evitar com sucesso o seu triunfo. Destas forças a principal, e sobre todas a chefe, é aquela que pode ser fornecida pela religião e a Igreja: sem isto, as mais estritas leis, os mais severos tribunais, e até a força das armas, vão se
provar sem utilidade e insuficiente. Como, em tempos antigos, a força material não adiantou contra as hordas dos bárbaros, mas somente o poder da religião Cristã, que entrando em suas almas apagou sua ferocidade, civilizou suas maneiras, e os fez dóceis à voz da verdade e à lei do evangelho; do mesmo modo contra a fúria das multidões sem lei não haverá defesa efetiva sem o salutar poder da religião. É somente este poder que, derramando sobre suas mentes a luz da verdade, e instilando em seus corações os sagrados preceitos morais de Jesus Cristo, pode fazê-los ouvir a voz da consciência e do dever, e, antes de restringir suas mãos, restringir suas mentes e acalmar a violência da paixão.
Atacar a religião, é portanto privar a Itália de seu mais poderoso aliado contra um inimigo que se torna a cada dia mais formidável.
15. Mas isto não é tudo. Como, na ordem social, a guerra contra a religião está se tornando mais desastrosa e destrutiva para a Itália, do mesmo modo, na ordem política, a inimizade contra a Santa Sé e o Pontífice Romano é para a Itália uma fonte dos maiores males. Mesmo quanto a isto, a demonstração não é necessária; é suficiente, para a completa expressão de Nosso pensamento, declarar em poucas palavras as suas conclusões. A guerra contra o Papa é para a Itália, internamente, uma causa de profunda divisão entra a Itália oficial e a grande parte dos italianos que são verdadeiramente Católicos: e toda divisão é uma fraqueza. Esta guerra priva nossa terra do suporte e da cooperação do partido que é mais francamente conservador; ela mantém no seio da nação um conflito religioso que nunca trouxe até agora qualquer bem público, mas até mesmo traz dentro de si os germes fatais do mal e do mais pesado castigo.
Externamente, o conflito com a Santa Sé, além de privar a Itália do prestígio e esplendor que ela com certeza teria vivendo em paz com o Pontificado, atrai sobre ela a hostilidade dos Católicos de todo o mundo, é uma causa de imensos sacrifícios, e pode em qualquer ocasião fornecer aos seus inimigos uma arma para ser usada contra ela.
16. Este é o assim chamado bem-estar e grandeza preparado para a Itália por aqueles que, tendo seus destinos em suas mãos, fazem tudo que podem, de acordo com as ímpias aspirações das seitas, para derrubar a religião Católica e o Papado.
17. Suponhamos, ao invés disto, que todas as ligações e conspirações com as seitas fossem deixadas de lado; que à religião e à Igreja, como o maior poder social, fosse permitida verdadeira liberdade e completo exercício de seus direitos.
Que feliz mudança viria sobre os destinos da Itália! Os males e os perigos que nós temos lamentado, como o resultado da guerra contra a religião e a Igreja, cessariam com o término do conflito; e ainda mais, nós veríamos mais uma vez florescer no solo escolhido da Itália Católica a grandeza e glória que a religião e a Igreja tem sempre abundantemente produzido. De seus poderes divinos nasceria espontaneamente uma reforma da moralidade pública e privada; os laços familiares seriam fortalecidos; e sob as influências religiosas, o sentido de dever e de fidelidade em seu cumprimento seria despertado em todos os níveis do povo para uma nova vida.
As questões sociais que agora ocupam tanto as mentes dos homens encontrariam seu caminho para a melhor e mais completa solução, pela aplicação prática dos preceitos evangélicos de caridade e justiça. A liberdade popular, não permitida a degenerar em licenciosidade, seria dirigida somente para bons fins, e se tornaria verdadeiramente digna do homem. As ciências, através daquela verdade da qual a Igreja é senhora, se levantariam rapidamente para uma mais alta excelência; e do
mesmo modo as artes, através da poderosa inspiração que a religião deriva do alto, e que ela sabe como transfundir às mentes dos homens.
A paz sendo feita com a Igreja, a unidade religiosa e a concórdia civil seriam grandemente fortalecidas; a separação entre a Itália e os Católicos fiéis à Igreja cessaria, e a Itália iria deste modo adquirir um poderoso elemento de ordem e estabilidade. As justas demandas do Pontífice Romano sendo satisfeitas, e seus direitos soberanos reconhecidos, ele seria restaurado a uma condição de verdadeira e efetiva independência; e Católicos de outras partes do mundo, que, não através da influência exterior da ignorância do que desejam, mas através de um sentimento de fé e sentido do dever, levantam suas vozes em defesa da dignidade e liberdade do supremo Pastor de suas almas, não teriam mais razão para considerar a Itália como inimiga do Pontífice.
Ao contrário, a Itália ganharia um maior respeito e estima das outras nações por viver em harmonia com a Sé Apostólica; pois não somente tem esta Sé conferido especiais benefícios aos italianos por sua presença em meio a eles, mas também, pela constante difusão dos tesouros da fé deste centro de bênção e salvação, ela fez o nome italiano grande e respeitado entre todas as nações. A Itália reconciliada com o Pontífice, e fiel à sua religião, seria capaz de dignamente emular a glória de seus
antigos tempos; e de qualquer progresso real que haja na época atual ela receberia um novo impulso para avançar em seu glorioso caminho. Roma, preeminentemente a cidade Católica, destinada por Deus para ser o centro da religião de Cristo e a Sede de Seu Vigário, tem tido nisso a causa de sua estabilidade e grandeza através das momentosas mudanças das muitas épocas que passaram. Colocada novamente sob o pacífico e paternal cetro do Pontífice Romano, ela se tornaria novamente o que a Providência e o curso das épocas a fizeram - não encolhida à condição de capital de um reino, nem dividida entre dois poderes soberanos diferentes em um dualismo contrário à toda sua história; mas a digna capital do mundo Católico, grande com toda a majestade da Religião e do supremo Sacerdócio, uma mestra e um exemplo para todas as nações da moralidade e da civilização.
18 Estas não são vãs ilusões, Veneráveis Irmãos, mas esperanças repousando sobre o mais sólido e verdadeiro fundamento. A sentença que tem sido por algum tempo comumente repetida, que os Católicos e o Pontífice são os inimigos da Itália, e aliados, por assim dizer, daqueles que derrubariam tudo, é um insulto gratuito e uma desavergonhada calúnia, ardilosamente espalhada por todos os lugares pelas seitas para disfarçar seus desígnios perversos, e para capacitá-los a continuar sem
obstáculo sua odiosa obra de desnudar a Itália de seu caráter Católico. A verdade que é vista da maneira mais clara daquilo que nós dissemos até agora, é que os Católicos são os melhores amigos da Itália. Mantendo-se completamente distantes das seitas, renunciando ao seu espírito e às suas obras, lutando de todos os modos para que a Itália não perca a sua fé, mas a preserve em todo seu vigor - para que não lute contra a Igreja, mas seja sua fiel filha, - para que não ataque o Pontificado, mas se reconcilie com ele, - os Católicos dão prova por tudo isto de seu amor forte e verdadeiro pela religião de seus ancestrais e por sua terra.
Fazei tudo que puderdes, Veneráveis Irmãos, para difundir a luz da verdade entre o povo para que eles possam chegar finalmente ao entendimento de onde seu bem-estar e seu verdadeiro interesse se encontram; e para que se convençam que somente da fidelidade à religião e da paz com a Igreja e com o Pontífice Romano, eles podem esperar obter para a Itália um futuro digno de seu glorioso passado.
Para isto Nós chamaríamos a atenção, não daqueles afiliados às seitas, cujo propósito deliberado é estabelecer a nova edificação da Península Italiana sobre as ruínas da Religião Católica; mas de outros que, sem acolherem tais desígnios malévolos, ajudam estes homens em suas obras dando suporte à sua política; e especialmente dos jovens rapazes, que estão tão sujeitos a se extraviarem pela inexperiência e predominância do mero sentimento. Nós desejaríamos que todos se convencessem que o curso que agora é seguido não pode ser senão fatal para a Itália; e, em fazer este perigo mais uma vez conhecido, Nós somos movidos somente por uma consciência de dever e pelo amor à nossa terra.
19. Mas, para a iluminação das mentes dos homens, nós devemos acima de tudo pedir pelo especial auxílio do céu. Portanto, à nossa unida ação, Veneráveis Irmãos, nós precisamos juntar a oração; e que seja uma oração geral, constante, e fervorosa: uma oração que irá oferecer gentil violência ao coração de Deus e fazê-lO misericordioso à Itália nosso país, para que Ele desvie dela toda calamidade, especialmente aquela que seria a mais terrível - a perda da fé. - Tomemos como nossa
medianeira junto a Deus a gloriosíssima VIRGEM MARIA, a invencível Rainha do Rosário, que tem tão grande poder sobre as forças do inferno, e por tantas vezes fez a Itália sentir os efeitos de Seu amor maternal.
Recorramos também com confiança aos santos Apóstolos PEDRO e PAULO, que sujeitaram esta terra abençoada à fé, santificaram-na por seus trabalhos, e a banharam em seu sangue.
20. Como uma garantia enquanto isso do auxílio que Nós pedimos, e como símbolo de Nossa mais especial afeição, recebei a Bênção Apostólica, que do fundo de Nosso coração Nós vos concedemos, Veneráveis Irmãos, ao vosso Clero, e ao povo italiano.
Dado em Roma, junto de São Pedro, a 15 de outubro de 1890, o décimo terceiro ano de Nosso Pontificado.
Referências:[1] S. Gregório o Grande: Carta ao Imperador Maurício, Reg. 5.